26.10.20

UM GIRO PARA RECORDAR

Mesmo abstraindo-nos da extraordinária prestação portuguesa, o Giro de 2020 entra de caras para a galeria dos melhores das últimas décadas. Foi talvez mesmo o melhor de que me recordo, com um vencedor surpreendente, com dois corredores a partirem para a última etapa exactamente com o mesmo tempo, e com quatro camisolas rosas diferentes nos últimos cinco dias.
A pandemia parece ter caprichado, e trouxe-nos - por motivos que serão analisados noutra oportunidade - uma das melhores temporadas velocipédicas de que tenho memória. Este Giro veio na sequência de um fantástico Tour, e de algumas belíssimas clássicas. E a Vuelta também segue bastante animada.
Tao Geoghegan Hart cumpriu as esperanças que nele se depositavam após excelentes resultados em sub-23, atingindo agora a maioridade competitiva. Superou Jai Hindley, outra bela surpresa, no contra-relógio de Milão, e arrecadou um troféu que a própria Ineos, depois da queda de Geraint Thomas, talvez já nem esperasse obter. Já agora, diga-se que também em Espanha levam a liderança com Carapaz.
Para a Sunweb ficaram segundo e terceiro lugar, e também a sensação de que poderiam ter feito uma melhor gestão da corrida, nomeadamente quando Kelderman se apresentava como grande favorito ao triunfo final, e foi deixado ao abandono pelos seus colegas de equipa.
De João Almeida já se disse quase tudo. Faltava o ponto final, com a subida ao quarto lugar da geral, por troca com Pello Bilbao, depois de mais uma magnífica prestação (quarto tempo no CRI). Fica um travo a pouco ao perceber que, Stelvio à parte, o jovem português foi o melhor ciclista em prova, pelo que a sua ausência do pódio é verdadeiramente injusta. Com 22 anos, terá muito para festejar, e muito para nos empolgar. A promessa ficou feita.
Ruben Guerreiro também fez história, tornando-se rei da montanha, e trazendo a primeira camisola distintiva de uma grande volta para Portugal.
Até dá pena deixar cair o pano sobre esta prova, que ao longo de três semanas nos fez vibrar como já não acontecia talvez desde Agostinho.

23.10.20

UM LUXO

 

Presenciámos o mais vibrante Tour da década. Estamos ainda a viver o mais extraordinário Giro de que me recordo. E parecemos caminhar também para uma Vuelta ao nível das melhores dos últimos anos.
A verdade é que, se em tantos aspectos bastante mais importantes da vida o ano de 2020 é para esquecer, pelo menos temos tido uma temporada ciclista verdadeiramente de luxo. Quem sabe o vírus, e as consequências que teve na preparação das equipas e dos atletas, não possa ter dificultado um maior controlo das corridas por parte das melhores equipas, deixando-as mais abertas e imprevisíveis?

O SONHO FICOU NO STELVIO

O sonho cor-de-rosa com que João Almeida alentou o país durante mais de duas semanas não resistiu à montanha mais dura do Giro. Os quase cinco minutos perdidos no Passo dello Stelvio deitaram por terra a possibilidade do jovem de A-dos-Francos levar a camisola da liderança até Milão, e comprometeram, talvez irreversivelmente, também a hipótese de subir ao pódio final.
Se antes do Giro nos dissessem que Almeida faria top-cinco, todos ficaríamos encantados. Confesso que antes da subida ao Stelvio, e depois de tantas demonstrações de talento e força, me parecia bastante viável que o português viesse a discutir os dois primeiros lugares na geral final com Kelderman. Por isso, fica um travo ligeiramente amargo, que porém não põe em causa a fantástica prestação do ciclista português - seguramente a mais empolgante desde os tempos de Joaquim Agostinho.
Na subida decisiva também faltou a João Almeida uma equipa mais forte, que soubesse reagir aos duos da Sunweb e da Ineos, que elevaram a corrida a um nível de dureza a que o jovem de 22 anos, sozinho, não conseguiu responder. Praticamente desde o início do Stelvio, Almeida ficou reduzido a...Ma(i)snada - o que foi demasiado curto para aquilo que necessitava e merecia.
Ainda falta Sestriere (etapa bastante reduzida face à programação inicial) e o Contra-Relógio final de 16 kms. Realisticamente, não parece possível almejar a mais do que ao quarto lugar de Pello Bilbao. A menos que alguém do trio da frente tenha um dia demasiado mau. Enquanto há vida, há esperança.
Mas mesmo ficando em quinto, há que tirar o chapéu a João Almeida. E agradecer-lhe por nos ter feito sonhar, e ter tornado este Giro numa das provas ciclistas mais extraordinárias de que os portugueses se recordam.
Uma palavra para Ruben Guerreiro, que também fez história assegurando a camisola da montanha. Trata-se do primeiro português a vencer uma qualquer classificação numa grande volta, triunfo esse a que juntou uma vitória em etapa. 
Parabéns Ruben!
Obrigado João!

22.10.20

21.10.20

VAN DER POEL VS VAN AERT - TAKE 1

 

A temporada de clássicas não poderia ter terminado de melhor forma para os fãs de ciclismo... com o duelo ao sprint entre o holandês Mathieu van der Poel e o belga Wout van Aert, rivais desde tenra idade. Mathieu van der Poel acabou por levar a melhor e replicar o feito do pai, Adri van der Poel, em 1986 e, curiosamente, com o mesmo número no dorsal, o 51.
Um duelo que promete apimentar as clássicas ao longo da próxima década.


PS: A maldição da camisola arco-íris continua a atacar...





19.10.20

VUELTA 2020

 


ETAPAS


EQUIPAS


VENCEDORES

ESTRELAS

RECORDAR 2019


SONHO VIVO




Mesmo sozinho, mesmo frente a um ataque poderoso da Sunweb, João Almeida resistiu, resistiu, resistiu, e segurou a camisola rosa por 15 segundos, naquele que era já um grande teste à sua liderança.

Agora segue-se um dia de descanso, e depois uma última semana terrível. 
Seria fabuloso que o jovem português pudesse vencer o Giro. Por agora, com tanta montanha por subir, parece-me prematuro apontar para tão alto. Terminar no pódio, igualando aquilo que só Joaquim Agostinho fez, afigura-se um objectivo mais realista, tendo em conta a força demonstrada pelos adversários. Mas... sonhar é grátis.

PS: Enquanto isso, no duelo da Flandres Van der Poel levou a melhor sobre Van Aert, alcançando o primeiro monumento da sua carreira.

15.10.20

DIAS COR DE ROSA - século XXI

Atualizado a 15/10/2020, após 11ª etapa
 

14.10.20


 

13.10.20

GRANDES VOLTAS, GRANDES MOMENTOS

JOAQUIM AGOSTINHO - TOUR EM 1979

PAULO FERREIRA - TOUR EM 1984

ACÁCIO DA SILVA - GIRO 1989

SÉRGIO PAULINHO - TOUR 2010 

RUI COSTA - TOUR 2013

NÉLSON OLIVEIRA - VUELTA 2015

RUBEN GUERREIRO - GIRO 2020

12.10.20

E VIVA PORTUGAL!

Etapa, liderança na geral, liderança na juventude, liderança na montanha, não com um, mas com dois ciclistas portugueses. Não há memória de uma coisa assim.
Juntamente com a vitória de Agostinho no Alpe d'Huez em 1979, e com o título mundial de Rui Costa em 2013, está é uma das datas para mais tarde recordar no ciclismo português.
E já com uma semana de prova, já com um contra-relógio e duas etapas de montanha, não se pode falar de acaso. Sim de talento, de força, de valor, de futuro e de esperança.
João Almeida e Ruben Guerreiro. Dois nomes para a história.

9.10.20

DIAS DE LIDERANÇA EM GRANDES VOLTAS - século XXI


Dias de liderança nas classificações gerais de Tour, Giro e Vuelta desde 2000

SPRINTERS EM GRANDES VOLTAS - século XXI

Etapas ganhas ao sprint no Tour, Giro e Vuelta desde 2000.
 

8.10.20

PORTUGUESES EM GRANDES VOLTAS - histórico


PR: presenças na prova
+: melhor resultado na geral
ET: vitórias em etapas
LID: edições em que esteve na liderança
Amarelo: Tour
Rosa: Giro
Vermelho: Vuelta
Cinzento: Total

6.10.20

AMARO SEM SURPRESA

Numa edição da Volta em que a grande notícia foi a sua própria realização, não houve surpresa e a super-equipa W52 levou uma vez mais a melhor sobre a concorrência.
Amaro Antunes regressou ao pelotão português pela porta grande, e ganhou com autoridade - vitória que começou a ser alicerçada na Senhora da Graça, resistindo à Torre e ao Contra-Relógio de Lisboa.
Destaque para Frederico Figueiredo, que lutou até ao último dia. E para Gustavo Veloso que continua para as curvas, conseguindo um brilhante segundo lugar. Joni Brandão, mesmo ganhando na Serra da Estrela, deixou um pouco a desejar, tal como a sua equipa, a Efapel de Tiago Machado, Sérgio Paulinho, António Carvalho e outros.
Que no próximo ano tudo volte ao normal, e a Volta volte ao seu calendário próprio. Já agora, que alguém se apresente em condições de destronar a W52.

 

HISTÓRICO!


Fantástico! O primeiro português deste século a liderar uma grande volta. Parabéns a João Almeida, e votos de que consiga aguentar a Rosa tanto tempo quanto possível.

LIÈGE ATÉ AO FIM

A foto é enganadora, tal como o foi a linha de meta para Julian Alaphilippe. 
Mais uma vez ficou demonstrado que só no fim se fazem contas. E quem ganhou foi Roglic - triunfo merecido, diga-se, para quem tanto sofreu com o furacão Pogacar no Tour.
De resto, Alaphilippe seria desclassificado, por ter colocado fora do sprint o próprio Pogacar e também Hirschi. Ninguém sabe quem venceria sem essa acção do francês, pelo que é caso para se dizer que se escreveu direito por linhas tortas.

1.10.20

VENCEDORES DE MONUMENTOS

Só Merckx, Van Looy e De Vlaeminck venceram os cinco.
 

LIÈGE-BASTOGNE-LIÈGE - todos os pódios




 

HIRSCHI VENCE O 6º MONUMENTO

 

Já não existem grandes dúvidas acerca de Marc Hirschi. Aos 22 anos é uma estrela confirmada no pelotão internacional.
O chamado 6º monumento (Fleche Wallone) foi o palco onde voltou a brilhar, com um triunfo pleno de força e inteligência, decidido na abordagem final ao Muro de Huy.
No domingo estreia-se em Liége, e é desde já um sério candidato à vitória.