30.1.20

BALANÇO DA DÉCADA - I

A EQUIPA DA DÉCADA
A primeira palavra que nos vem à memória quando falamos na última década de ciclismo é Sky. A publicidade à cadeia de televisão é apenas o nome pelo qual o sucesso de um projecto com origem na pista ficará imortalizado. A equipa de Dave Brailsford mudou para sempre a história do ciclismo britânico, que nunca tinha conquistado nenhuma Grande Volta nem era tida como uma grande potência do ciclismo de estrada. Esse cenário mudou completamente esta década, dominada por britânicos do inicio ao fim. 2012 foi o ano da primeira vitória nos Campos Elísios através de um campeão olímpico de pista - Bradley Wiggins. Chris Froome, escudeiro de Wiggins em 2012 (parecendo até ter sido o inglês mais forte nessa edição, em muito devido à sua demonstração de força e rebeldia para com a própria equipa em La Toussuire), viria a vencer no ano seguinte e de forma arrebatadora. Voltaria a vencer em 2015 e fá-lo-ia mais duas vezes, consumando três vitórias consecutivas. Em 2018 mais um britânico da Sky, desta vez galês, a vencer o Tour - Geraint Thomas. Este seria o último ano em que a equipa se apresentaria com o patrocínio da Sky, mas não seria o fim do seu reinado no Tour. 2019 foi o ano de Egan Bernal, pela primeira vez a Sky (agora Ineos) vence o Tour com um ciclista não-britânico. 

O NOME INCONTORNÁVEL
Christopher Froome foi indiscutivelmente o grande nome da última década no que toca ao ciclismo internacional. 4 Voltas a França, 2 Voltas a Espanha e 1 Volta a Itália. 7 Grandes Voltas em 10 anos. Foi este o legado deixado pelo britânico. Infelizmente, nem tudo foi um mar de rosas para Froome. Em dezembro do ano de 2017, no qual conquistou a dobradinha Tour-Vuelta, saíram noticias a respeito de um controlo anti-doping positivo do tricampeão do Tour à altura. A UCI acabaria por ilibá-lo a tempo de participar no Tour do ano seguinte. Contudo, a sua marca no ciclismo mundial cinge-se àquilo que o próprio conquistou nas estradas, algo que o torna num dos melhores ciclistas de todos os tempos.

O CASO 'ARMSTRONG'
Dia 17 de Janeiro de 2013. O mundo do desporto é abalado por uma surpreendente confissão de Lance Armstrong, detentor de 7 Voltas a França, que, no famoso programa da televisão norte-americana Oprah, revela ter utilizado EPO e outras substâncias dopantes desde o inicio da sua carreira. Foi o fim de um mito e a prova de que mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo.   

QUE VIVA ESPAÑA!
Tida historicamente como a menos relevante das três Grandes Voltas, a Vuelta a España cresceu muito em popularidade nos últimos 10 anos. Muito contribui para isso a sua calendarização (após a Volta a França) e as desistências das grandes estrelas no Tour com maior frequência do que o desejado. Foi na Vuelta que o mundo conheceu Froome, viu uma das melhores prestações da carreira de Contador, assistiu ao fim do sonho para o futuro vencedor do Giro Tom Dumoulin. O espectáculo que o Tour, por vezes, não conseguiu proporcionar foi de certa forma retribuído na Vuelta e, por isso, a competição espanhola subiu na consideração de todos os amantes da modalidade.  

SPRINTERS PARA TODOS OS GOSTOS
Assim como se sucede com os guarda-redes no futebol, os sprinters são por vezes menosprezados em prol dos trepadores com capacidade para vencer Grandes Voltas. No entanto, a última década ficou marcada por muitos e bons sprints. Nos primeiros anos da década tudo ficava com Mark Cavendish e o 'comboio da HTC', mas depressa apareceram rivais à altura do inglês. Os alemães Marcel Kittel e Andre Greipel, o eslovaco Peter Sagan e o próprio inglês, entre vários outros, protagonizaram grandes batalhas nas linhas de meta durante a última década. 

OUTRAS ORIGENS: COLOMBIA
A globalização já tinha chegado ao mundo do ciclismo há muito tempo, inclusive um ciclista colombiano já havia conquistado uma Grande Volta (Luis Herrera vencera a Vuelta de 87), contudo nunca existiu melhor fornada de ciclistas sul-americanos, capazes de discutir e vencer grandes provas, do que a da última década. Mais propriamente, a melhor década da história do ciclismo colombiano. Primeiro com Quintana (pódio no Tour e vitórias no Giro e na Vuelta), depois com Bernal (vencedor do Tour em 2019 - primeiro colombiano / latino-americano a ganhar o Tour), passando por Gaviria que se vem destacando nos sprints. Que década fantástica para a Colombia! 

TRICAMPEÃO MUNDIAL COM CARISMA
Peter Sagan foi, indiscutivelmente, a personalidade mais carismática do pelotão internacional ao longo da última década e, de forma discutível, o ciclista mais completo. Alcançou um feito inédito, a conquista de três Mundiais consecutivos, o que faz do eslovaco o maior vencedor histórico da corrida, igualado com outros quatro ciclistas. Vê-lo vestido com a camisola arco-íris foi algo comum. Foi também dono e senhor da camisola verde (dos pontos) na Volta a França, vencendo 7 vezes essa classificação e destronando o irlandês Sean Kelly de forma a poder intitular-se como o maior vencedor da classificação por pontos na história do Tour. No plano das clássicas obteve igualmente sucesso, vencendo uma edição do Paris-Roubaix e outra do Tour de Flandres. Fora os muitos segundos lugares pelos quais também ficou conhecido...     

ADEUS DE GRANDES CAMPEÕES
Se esta foi uma década marcada pelo nascimento desportivo de grandes ciclistas, também foi marcada por despedidas. E em grande estilo. Com um palmarés conjunto de 14 'monumentos' (7 para cada), Tom Boonen e Fabian Cancellara (este último vencendo a Strade Bianche e sagrando-se campeão nacional e olímpico de contra-relógio), os mais recentes 'Reis das clássicas', anunciaram o fim de carreira. Porém, a despedida mais mediática pertenceu ao madrileno que marcou uma era na história do ciclismo mundial - Alberto Contador. A correr em casa, na penúltima etapa da sua carreira, em pleno Alto de l'Angliru, o espanhol proporcionou ao mundo uma das mais espectaculares despedidas da história do desporto internacional. Há que se lhe tirar o chapéu. 

NOMES NA ESTRADA E NOS LIVROS DE HISTÓRIA
Apenas sete ciclistas conseguiram a proeza de vencer as três Grandes Voltas em toda a sua carreira, sendo que três deles conviveram no pelotão internacional ao longo da última década. Alberto Contador (ESP), Vincenzo Nibali (ITA) e Chris Froome (GBR) juntaram-se a uma restrita lista de aepanas quatro nomes: Eddy Merckx (BEL), Bernard Hinault (FRA), Jacques Anquetil (FRA) e Felice Gimondi (ITA). Percebe-se assim a dimensão histórica destes três ciclistas que os fãs do ciclismo tiveram a oportunidade de ver na estrada nos mais recentes anos.


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