21.9.20

TOUR 2020 - vencedores e vencidos

VENCEDORES

TOUR: Num ano atípico como este, a corrida esteve até para nem se realizar. Acabou por acontecer, com público QB, chegou ao fim, e terá sido mesmo uma das melhores edições deste século. O vírus infelizmente ainda não foi derrotado, mas nas estradas de França quase não se deu por ele, e isso foi reconfortante para todos os adeptos da modalidade.

POGACAR: Com Camisola Amarela, Camisola Branca, Camisola da Montanha e três etapas conquistadas, o jovem esloveno foi o triunfador em toda a linha deste Tour de France. Mais do que vencer, venceu com estilo, e fez lembrar o velho ciclismo que parecia já esquecido no baú das memórias. O contra-relógio do penúltimo dia entra directamente para a galeria dos grandes momentos da história do Tour, e será sempre lembrado por quem teve a sorte de o acompanhar (tal como o célebre Fignon/Lemond de 1989). Promete não ficar por aqui. Juntamente com Contador e Froome, é já um dos mais impressionantes ciclistas das últimas décadas.

BENNETT: Desde os tempos de Sean Kelly e Stephen Roche que um irlandês não se destacava tanto na Volta à França. Sam Bennett destronou Peter Sagan como triunfador nos pontos, e arrecadou duas etapas, mostrando que talvez já devesse ter tido oportunidade de correr o Tour mais cedo. As suas lágrimas aquando da primeira vitória também ficaram como uma das imagens fortes da corrida.

VAN AERT: Mais do que as duas etapas que ganhou, ficou na retina o trabalho extraordinário feito nas montanhas em ajuda de Roglic. Wout Van Aert, já este ano triunfador em San Remo, mostrou ser dos mais completos ciclistas da actualidade.

COL DA LA LOZE: Tirando o contra-relógio final, a etapa terminada em Col de La Loze foi o mais belo momento deste Tour. Uma subida duríssima e espectacular, que tem tudo para se tornar frequente, e marcar a história do Tour para as próximas décadas.

SUNWEB/HIRSCHI/ANDERSEN: A segunda equipa holandesa (para além da todo-poderosa Jumbo-Visma) esteve em grande evidência, vencendo três etapas, revelando uma nova estrela (Marc Hirschi), e mostrando sentido táctico assinalável ao lançar o dinamarquês Soren Andersen para duas vitórias a papel químico. Como se não bastasse, trabalhou intensamente em algumas jornadas planas para o seu sprinter Cees Bol - o qual não soube todavia aproveitar o esforço dos colegas.

PORTE: Aos 35 anos, Richie Porte conseguiu enfim o seu primeiro pódio numa grande volta, e logo em Paris. Não fora o tempo perdido nos primeiros dias, e até talvez pudesse ter ido um pouco mais além, designadamente até à discussão pelo primeiro lugar. Fica no entanto um excelente registo, que devolveu o ciclismo australiano aos holofotes do mundo.


VENCIDOS

ROGLIC: Só figura entre os vencidos pela forma dramática como perdeu o Tour. De resto Primoz Roglic foi um campeão, quer ao longo dos vários dias em que vestiu de amarelo, quer também no momento da derrota - que não foi, de modo algum, indigna. Roglic fez quase tudo bem, e não teve culpa de lhe aparecer um super-homem pela frente, quando já seguia triunfal rumo a Paris. Também não tem razões de queixa da sua equipa, que fez um trabalho fantástico. Mas naquele contra-relógio já nada mais havia a fazer. Contra a força não houve argumentos...

INEOS/BERNAL: Apontada como uma das grandes favoritas, a Ineos começou a perder o Tour no momento em que escalou a sua start-list. Não parece que as ausências de Froome (de malas aviadas para outras paragens) e Thomas tenham sido bem digeridas no seio do grupo. E se a aposta all-in em Egan Bernal se revelou fracassada, o prematuro sacrifício de Carapaz revelou-se suicida. Esperava-se mais do jovem colombiano detentor do título, mas quem vira a Sky de há uns anos atrás não pôde deixar de notar uma diferença substancial nesta Ineos - recorde-se, já sem o seu DS Nicolas Portal, recentemente falecido. A etapa nº 18 salvou a honra, com a "dobradinha" Kwiatkowski/Carapaz. Pouco, para aquilo que se esperava.

FRANCESES: À excepção de Alaphilippe nos primeiros dias, quase não se deu pelos homens da casa. As seis equipas gaulesas praticamente passaram ao lado da prova (apenas uma vitória, por Nans Peters para a AG2R), e tanto Pinot, como Bardet, como o promissor Guillaume Martin, deixaram a desejar. E no caso dos primeiros, muito.
A última Volta a França ganha pelos franceses data dos tempos de Bernard Hinault. E nos próximos anos não parece haver forma de contrariar esta tendência, depois de algumas edições em que, sobretudo Bardet e Pinot, andaram a cheirar os primeiros lugares, e pareciam capazes de um dia ser felizes. 

COLOMBIANOS: Tinham um dos dois grandes favoritos à partida (Egan Bernal). Tinham mais de meia dezena de homens capazes de disputar o pódio. Apontava-se para a última oportunidade de Quintana - finalmente numa equipa feita à sua medida.
Os colombianos conquistaram duas etapas (Martinez e Lopez), mas acabaram por não ter ninguém no Top 5 da geral final, o que não pode deixar de saber a fracasso. Chegaram a ter 3º, 4º, 5º e 6º. Mas o contra-relógio foi-lhes fatal.

SAGAN: Olhando para as últimas prestações do eslovaco, fica a sensação de fim de ciclo. Aos 30 anos é cedo para desaparecer, mas a verdade é que aquele Peter Sagan alegre, triunfante, quase provocador, já não se vê. Tenta, mas não consegue. Por vezes parece nem tentar. Nem uma vitória para amostra, e perda da Camisola Verde, são as notas de um Tour para esquecer.

NTT/CCC/ISRAEL: Eis um trio de equipas que passaram totalmente anónimas por esta edição do Tour. Com nomes como Van Avermat, Zakarin, Trentin, Nizzolo, Hagen, Pozzovivo, Kreuziger, Dan Martin ou Greipel era de esperar bastante mais. Nenhuma etapa, nenhuma camisola, nenhuma discussão de coisa alguma. Fracasso total.

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