23.10.20

O SONHO FICOU NO STELVIO

O sonho cor-de-rosa com que João Almeida alentou o país durante mais de duas semanas não resistiu à montanha mais dura do Giro. Os quase cinco minutos perdidos no Passo dello Stelvio deitaram por terra a possibilidade do jovem de A-dos-Francos levar a camisola da liderança até Milão, e comprometeram, talvez irreversivelmente, também a hipótese de subir ao pódio final.
Se antes do Giro nos dissessem que Almeida faria top-cinco, todos ficaríamos encantados. Confesso que antes da subida ao Stelvio, e depois de tantas demonstrações de talento e força, me parecia bastante viável que o português viesse a discutir os dois primeiros lugares na geral final com Kelderman. Por isso, fica um travo ligeiramente amargo, que porém não põe em causa a fantástica prestação do ciclista português - seguramente a mais empolgante desde os tempos de Joaquim Agostinho.
Na subida decisiva também faltou a João Almeida uma equipa mais forte, que soubesse reagir aos duos da Sunweb e da Ineos, que elevaram a corrida a um nível de dureza a que o jovem de 22 anos, sozinho, não conseguiu responder. Praticamente desde o início do Stelvio, Almeida ficou reduzido a...Ma(i)snada - o que foi demasiado curto para aquilo que necessitava e merecia.
Ainda falta Sestriere (etapa bastante reduzida face à programação inicial) e o Contra-Relógio final de 16 kms. Realisticamente, não parece possível almejar a mais do que ao quarto lugar de Pello Bilbao. A menos que alguém do trio da frente tenha um dia demasiado mau. Enquanto há vida, há esperança.
Mas mesmo ficando em quinto, há que tirar o chapéu a João Almeida. E agradecer-lhe por nos ter feito sonhar, e ter tornado este Giro numa das provas ciclistas mais extraordinárias de que os portugueses se recordam.
Uma palavra para Ruben Guerreiro, que também fez história assegurando a camisola da montanha. Trata-se do primeiro português a vencer uma qualquer classificação numa grande volta, triunfo esse a que juntou uma vitória em etapa. 
Parabéns Ruben!
Obrigado João!

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