24.7.17

UM OLHAR SOBRE O TOUR 2017

Os saudosistas do passado dirão que este Tour desiludiu, que não houve grandes diferenças entre favoritos, que os ataques escassearam, e que a Sky dominou mais uma vez sem resistências. Até podem ter razão, pois tudo isso foi, de facto, uma realidade. Mas num olhar mais pragmático, que leve em linha de conta o que é o ciclismo moderno, há que reconhecer que estas três semanas foram muito bem passadas.
Ataques como os da época de Merckx, por vezes em linha recta, sem equipas organizadas a defender, não mais voltarão a ver-se nas estradas francesas ou europeias. Os amantes da modalidade têm de se habituar a estes novos tempos, onde a táctica colectiva se sobrepõe, na maioria das vezes, à aventura individual, onde tudo é calculado ao milímetro, onde a tecnologia e a ciência imperam.
Para além desse pragmatismo, há que perceber que as forças já estão levadas ao limite, e a energia nem sempre (quase nunca…) sobra. Bardet fez o que pôde, e não tinha mais nada para dar. Quintana veio esgotado do Giro. Contador está na trajectória descendente da sua carreira. A partir de dada altura também Aru ficou sem pernas. Porte caiu. E tudo isto facilitou a vida da Sky e de Christopher Froome.
O britânico é o melhor e o mais regular. Ninguém ganha quatro Tours por acaso. E se o tivessem deixado (a equipa em 2012, e as quedas em 2014) já levava seis. Noutros anos terá sido mais espectacular, mas não deixou de ser eficaz, numa prova cujo traçado não favorecia significativas diferenças de tempo.
Para além de Froome, outros se destacaram. Nomes como Uran, Kittel, Mathews, Barguil ou Landa deixaram marca na competição. Cada um nos seus momentos, e pelos seus motivos, mostraram que se pode contar com eles. O basco até pareceu poder ir mais além, caso não tivesse de controlar os seus ímpetos na protecção ao chefe.
As etapas da primeira abordagem alpina e dos Pirenéus foram fantásticas. Do melhor que o ciclismo profissional nos ofereceu na última década. Já os Alpes da última semana desiludiram um pouco, criando uma espécie de anti-climax naquilo que estava a ser um verdadeiro regalo para os fãs. O balanço geral é, porém, bastante positivo, com muitos ingredientes interessantes, e muita esperança no futuro próximo.
Depois de um grande Giro, de um grande Tour, resta-nos esfregar as mãos e esperar pela Vuelta.

SINAL +  Froome, Sky, AG2R, Uran, Bardet, Kittel, Matthews, Barguil, Landa, traçado, público, segurança, Pirenéus, Sunweb, etapa de Chambery, Hagen, Dan Martin, Bodnar, paisagens, Yates, meninas do pódio e comentadores Eurosport

SINAL -  Quintana, Movistar, Contador, quedas, BMC, Katusha, atitude de Sagan, Bouhani, Galibier, pouca gente em Marselha, Chaves, Greipel, etapas em linha repetitivas, equipas convidadas, João Pedro Mendonça e Flecha

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