O Tour de 2015 prometia muito.
Um percurso variado, todas as grandes estrelas em prova, e forte entusiasmo
dos franceses face às expetativas criadas no ano anterior, eram os principais
condimentos para um prato que se antevia apetitoso.
Chegados a Paris, poderemos dizer que talvez se esperasse um pouco
mais.
É verdade que houve algum espetáculo – sobretudo em Saint Martin, e no
Alpe d’Huez -, mas muitas das etapas, mesmo as que mais prometiam, obedeceram a
um guião pré-definido pela Sky, que cedo tomou conta da corrida para não mais a
largar.
O ciclismo moderno é assim, e quando a equipa mais forte sente que tem
a vitória nas mãos, dificilmente há espaço para veleidades de terceiros. Creio
que a diminuição do número de corredores por equipa talvez pudesse ajudar a
tornar estas competições menos previsíveis. Mas há uma verdade que as últimas
edições também têm demonstrado: só com chegadas em alto (mesmo que em etapas
mais curtas) há efetiva seleção dos melhores, pois outro tipo de etapas, por
maior que seja a beleza dos percursos, cabem sempre facilmente no bolso das
equipas dominadoras (neste caso da Sky), cortam o suspense, deixando aos fãs
uma sensação de vazio. Até o ”Pavé” do norte, que tantos estragos havia feito
na edição anterior (em larga medida devido às condições climatéricas então
verificadas), ficou agora bastante aquém do esperado.
Chris Froome foi o grande triunfador do Tour de 2015. Alicerçado numa
equipa fortíssima (onde se destacaram Richie Porte, Wout Poels e, sobretudo,
Geraint Thomas), o britânico demonstrou ser o mais forte ciclista da
atualidade. Só Nairo Quintana, nas últimas duas etapas dos Alpes, conseguiu
retirar-lhe algum tempo, embora ficasse sempre a sensação de que Froome
mantinha o controlo das operações qualquer que fosse a distância a que via o
colombiano. Em Pierre Saint Martin deu festival, colocando desde logo uma pedra
sobre a discussão acerca do vencedor final. A partir de então, prevaleceu a
ideia de que só um acidente poderia retirar a segunda vitória na Grand Boucle
ao ciclista da Sky.
Foi pois um triunfo merecida, daquele que demonstrou ser o melhor. Não
fora a discutível (e discutida) ajuda a Wiggins em 2012, e uma dramática queda
no Pavé de 2014, poderíamos estar já perante um nome para juntar à galeria onde
estão Anquetil, Hinault, Indurain e Merckx - monstros da prova francesa. Os
próximos anos dirão até onde chega este grande atleta.
Para além da Sky e de Chris Froome, há que destacar outros vencedores
nesta edição. Alejandro Valverde cumpriu finalmente o sonho de chegar ao pódio,
mantendo uma regularidade impressionante em todos os momentos capitais da prova.
Intrometeu-se, com mérito, no meio dos “quatro magníficos”, juntando o seu nome
aos maiores do ciclismo da atualidade. Peter Sagan, mesmo sem conquistar
qualquer etapa, cumpriu o objetivo de vestir de verde em Paris. André Greipel
foi o velocista de serviço, vencendo quatro etapas (incluindo os Campos
Elísios), mesmo sem que tal lhe conferisse a camisola verde (regulamentos a
rever...). Depois de alguns anos na sombra de Cavendish e Kittel, este alemão mostrou
finalmente toda a sua capacidade finalizadora, tornando-se, também ele, um dos
nomes grandes do Tour. Nota também para Joaquin Rodriguez, que venceu duas
etapas, e para a semana final de Vincenzo Nibali (o campeão em título), que
ainda foi a tempo de resgatar a honra que a dada altura parecia perdida,
chegando a falar-se de eventual abandono. Quintana lutou, mas talvez tenha
deixado para demasiado tarde as suas principais munições. Os franceses animaram
muitas etapas, embora tenham ficado longe dos espantosos resultados do ano
anterior.
Do lado dos derrotados poderemos falar de dois nomes que marcaram
claramente a última década da velocipedia internacional.
Alberto Contador falhou no seu propósito de juntar o Tour ao Giro, e
nem ao pódio conseguiu chegar. O quinto lugar, não o envergonhando, certamente
também não o deixará feliz. Acredito que no próximo ano coloque o Tour no
epicentro da sua programação, visando certamente despedir-se em grande de uma
competição onde apenas duas vitórias não refletem todo o potencial que
demonstrou ao longo dos anos.
Mark Cavendish, mesmo com uma vitória em Fougéres, não soube
aproveitar a ausência de Marcel Kittel, quase não oferecendo resistência à
esmagadora superioridade de Greipel. O sonho de bater o recorde do número de
etapas parece definitivamente posto de parte.
Já que falamos de sprints, há que dizer que também de Alexander
Kristoff se esperava bastante mais.
Não seria possível evitar colocar neste prato o nome de Rui Costa.
Cedo se percebeu que o objetivo do top 10 era difícil de alcançar, e mesmo
antes dos Pirenéus já o português levava mais de cinco minutos de diferença
para a liderança. Na primeira etapa montanhosa as coisas correram ainda pior, e
o abandono começou a desenhar-se. Talvez seja altura de Rui Costa refletir
sobre o futuro da sua carreira. À medida que o tempo passa, vou reforçando a
ideia de se tratar de um fabuloso corredor de clássicas e provas de uma semana,
mas sem perfil para discutir os primeiros lugares de uma grande volta. O treino
orientado nesse outro sentido, poderia garantir-lhe um número de vitórias mais
compatível com a sua imensa classe.
Os outros portugueses estiveram num plano discreto, com Nélson
Oliveira a ser o melhor.
Para o ano há mais.
Portugueses no Tour 2015:
ResponderEliminarNélson Oliveira...Lampre-Merida...44º...2:15:32
Tiago Machado...Katusha...67º...2:54:31
José Mendes...Bora-Argon...134º...4:07:47
Rui Costa...Lampre-Merida...desistiu